O jeito para o o barro está-nos no sangue. Até os nossos amigos, com outros sangues, são contagiados pela magia que mostramos onde pomos as mãos.
Sempre que sobre a roda de oleiro ficava metade da peça e nas mãos dos nossos jovens josés francos ficavam, esganadas entre os dedos, as outras metades, pois isso não era senão as evidências da rendição do barro falso e podre à mercê de mãos tão virtuosas... Diria que o jeito está bem mais além, está, quiçá, ao nível do mesmo magma criativo de que fala o nosso querido Padre António Vieira:
Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e, depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel na mão, e começa a formar um homem, - primeiro, membro a membro, e depois feição por feição, até à mais miúda;

ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe atesta, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca, avulta-lhe as faces, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos;
aqui desprega, ali arruga, acolá recama; e fica um homem perfeito, e talvez um santo que se pode pôr no altar. (Padre António Vieira, in Sermão do Espírito Santo)
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